sexta-feira, outubro 01, 2004

A Maleta

Um argumento de Rafael Luiz Reinehr
(a ser transformado em roteiro artístico, técnico e curta-metragem)

Gabriel – endividado, recém-desempregado, prestes a perder Patrícia, sua esposa, procurando com urgência uma forma de conseguir dinheiro; desesperado.

Patrícia – esposa de Gabriel; cansada da vida de dona-de-casa e de pobreza; sonhadora, ansiosa.

Estranho – pessoa enigmática, sinistra, sombria; traz consigo uma maleta misteriosa que decidirá o futuro da vida de Gabriel.


Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Dias de hoje.
Gabriel nunca havia estado tão fundo no poço da vida: as dívidas pareciam não ter fim, sua mulher não agüentava a vida que levava, estava prestes a acabar com o casamento e, para seu total desespero, havia acabado de perder o emprego que garantia seu mísero sustento.
Via-se completamente sem saídas até que algo inesperado aconteceu. Estava em um bar bebendo um café enquanto pensava como ia contar à sua esposa sobre a perda do emprego quando lhe aparece um estranho homem que lhe faz uma curiosa oferta: uma maleta que, supostamente, conteria 1 milhão de reais e que, para que Gabriel pudesse pegar o dinheiro, bastaria apertar um botão e abrir a maleta.
Gabriel achou a oferta muito esquisita. Afinal, porque alguém andaria por aí com uma maleta com um milhão de reais e a ofereceria a um completo desconhecido? O estranho homem disse, como que lendo o pensamento de Gabriel, que essa não era a pergunta certa. Bastava saber que para que o dinheiro fosse de Gabriel bastaria apertar o botão vermelho e que, no exato momento em que Gabriel abrisse a maleta, alguma pessoa no mundo iria morrer. Outra coisa: somente ele seria capaz de abrir a maleta.
A primeira reação de Gabriel foi cair na gargalhada, acreditando que tudo não passasse de uma pegadinha de TV. Entretanto, o estranho disse que não havia brincadeira alguma, a decisão seria toda de Gabriel; e foi embora, deixando Gabriel com seus pensamentos.
Gabriel não pode se decidir na hora. Resolveu ir para casa contar a história para sua mulher. Patrícia foi logo pedindo que abrisse a maleta, já que essa história de que alguém fosse morrer era pura idiotice, e o máximo que iria acontecer era darem de cara com uma maleta vazia. Patrícia tenta apertar o botão e forçar a abertura da maleta mas não consegue.
Gabriel, impressionado com a figura do estranho, ainda tinha dúvidas sobre o caminho a seguir. E se realmente morresse alguém no mundo? E se essa pessoa fosse alguém de sua família? E se fosse Patrícia, sua amada? E se fosse ele mesmo?
Passou a noite inteira insone, tentando decidir o que fazer. Pela manhã, saiu para procurar emprego e, no mesmo bar onde novamente parou para um café encontrou o estranho homem que havia lhe dado a maleta. Resolveu esclarecer as dúvidas que tinha. O estranho lhe informou que, caso Gabriel abrisse a maleta não seria ele, nem sua esposa nem ninguém conhecido a partir desta para melhor, mas sim um completo estranho alhures no mundo.
Depois de muito pensar, imaginando-se responsável pela morte de alguém, mesmo desconhecido, lembrou-se da terrível situação financeira e amorosa em que se encontrava e tomou uma decisão.
Voltou para casa, sentou-se na mesa da cozinha, fixou atentamente a maleta, revisitou seus pensamentos e agiu: apertou lentamente o botão e, bem devagar, abriu a maleta que, para sua surpresa, mostrava a fortuna que o estranho havia prometido.
Não conteve-se de felicidade:começou a pegar todo o dinheiro da maleta e enfiou nos bolsos do casaco. Ao terminar, fechou a maleta e, para sua surpresa, de trás dela surgiu a figura do estranho, em pé, encostado na pia de sua cozinha.
-Ei, o que você está fazendo aqui? – perguntou Gabriel.
O estranho respondeu que viera pegar o que lhe era de direito.
- Mas você me disse que se abrisse a maleta, o milhão de reais era meu!
- Sim – respondeu o estranho – o dinheiro é seu, mas a maleta levo comigo.
- Ah, ta! Pode levar! Não preciso mais dela. Compro mil dessas se quiser! E agora, o que você vai fazer com a maleta?
- Vou fazer o que tenho feito há mais de 200 anos: encher a maleta com uma nova fortuna e viajar para um local distante daqui. Vou oferecer esta maleta a um desconhecido, assim como fiz com você, e este desconhecido terá a mesma oportunidade que dei a você e a milhares de outros antes de você. Só que, desta vez, se o desconhecido decidir apertar o botão e abrir a maleta, quem morre é você.

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Rafael Luiz Reinehr
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1 Comments:

Blogger Rafael Reinehr said...

Milton: sei exatamente como te sentes. Passei os anos de 2001 a 2004 tratando de "organizar minha vida para começar a vivê-la", o que finalmente havia conseguido em fevereiro deste ano quando, não mais que de repente (desculpe pelo lugar comum), o Absurdo: convocação para o Serviço Militar Obrigatório.
Minha vida caiu. Foi como ter ambas pernas amputadas em um acidente automobilístico. Aqueles que dizem "Mas é só um ano..." não sabem a grande besteira que falam.
Talvez sejam daquelas pessoas insensíveis em que a vida passa à frente dos olhos e os sentidos mais simples como o paladar, odores e intuição nada consegue lhes dizer.
Começo novamente amigo meu, e te estimulo fortemente a realmente mudar e encontrar teu ponto de equilíbrio. Torço para que chegues lá o quanto antes.

Um forte e fraterno amplexo e um algodão doce do amigo Rafael Reinehr.

5:44 PM  

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